sábado, 18 de setembro de 2010

O Grito dos Incautos - Sigilo.


Um supervaloriza a quebra do sigilo, outro, tenta minimizar. Justificar personalizando para insinuar que os “violados” não são, também, tão idôneos. Analisa-se: quem fez; sobre quem; como; e, a mando de quem. Ninguém perguntou, todavia, o que fizeram com os dados depois do sigilo quebrado. Para que serviu? De ambos deveria ser a única preocupação: Se a quebra em nada desabonou, ótimo, comprovo honestidade; se mostrou que é desonesto, confirmou a suspeita dos bisbilhoteiros. Não revelar aí, é o mesmo que esconder. Desconsiderar isso, leva à conclusão: São iguais, se merecem.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Seussoubesse.

Seussoubesse é o espectro de um monge francês da idade média que paira sobre os mortais. Todos os dias ouvimos relatos de “avistamentos” ligados a momentos onde prevalecem o sentimento de culpa e arrependimento.

Populares, políticos e autoridades constantemente fazem contato com a entidade, há relatos de aparições recentes em Brasília, principalmente nos sítios da Casa Civil e do Palácio Presidencial.

Seussoubesse.



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dentreouvido - As Coisas.


Tinha eu ido ao campo levar o gado para pastar (metáfora rural/saudosista ao ato de levar as filhas para namorar no Shopping). Para gastar tempo, entrei em uma loja de quinquilharias (Multicoisas, Muitostrecos...deste gênero). Olhava entretido. Aproximou-se solícito jovem vendedor:
- Procura algo? Indagou para ajudar.
Procurara, e mais, perscrutara.
Respondi sem intenção de constranger o perplexo moço:
- Sim, mas não faço a menor ideia do que seja. Se achar, lhe digo.
Vi dois zilhões de coisas que poderia ter comprado, não comprei. Saí não pior ou menos completo. Só com uma certeza, e uma pergunta: Nada que acolá estava nenhuma falta me faria; do que comprei até aqui, o que realmente somou?
Lembrei Manuel de Barros...as coisa me acrescentaram para menos. Fui-me achando graça.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Quem Planta Cana em Ladeira - (25) laboratório.

De uma antiga história da cultura do açúcar.

XXV

(Último Capítulo)

Desceram para a capela. Desde cedo estou acordado, o sol ainda nem pintara alaranjado os tacos do salão Azul pela meia-lua da janela, já estava sem sono. Ouvi os quartos se abrirem, as portas batendo, a conzinha produzindo, o farfalhar de Donana, dando ordens, aviando as providências, “o café do padre é sem doce! Os meninos tomam leite morno!“Donana! Carece ferrar o pudim?” A casa voltou aos velhos tempos. Eu não quero saber de festa. Daqui não saiu. Aqui ninguém entra. Saíram todos, desceram para a capela, as negras estão novamente batendo na cozinha, preparam o almoço. Vou dormir um pouco enquanto não volta o povo.

Vai-te João Budião, que danado esse mulato tem pegado no meu sonho? Vou agora não, vá mexer com o diabo no inferno! Deus que me perdoe. Não posso nem mais dormir direito. Não vou não João! Agora não, largue daqui.

Chegaram da missa, tem zoada de menino chorando, mesa posta, os convidados riem, o padre fala alto. Ouço a voz do Wanderley, aquele lá fala aos berros, a voz mais alta, excedeu-se nos vinhos. Vem para cá. Vem estou ouvindo alguma coisa. Espero que Sinhá tenha colocado os negros na porta como mandei.

Ele fala com Donana, insiste em entrar. Deus ajude, meus pés estão frios, deu-me uma tontura, náusea, ele insiste em me mostrar o menino batizado. Não quero ver nada. Tem um zumbido na minha cabeça. Donana não ceda. Não Donana, eu não quero que esse daí entre no salão azul. Aqui não. Tomou minha filha, minhas terras, meus negros, minha criação, minha coroa, aqui não, não no salão azul, meu último refúgio. Determinei, pedi, implorei. Aqui não quero ninguém.

Respeite o Senhor do Massapé!

Valha-me Deus ele vai entrar!

Deixe não Donana, por caridade, tenha dó de um pobre velho.

Meu avô? Budião?

Deixe não Sinhá...

Se ele entra não sei o que pode acontecer. Deixe não mulher, por Deus.

A porta vem abrindo, será Donana? É não! É ele! Meu escapulário, Ele entrou...

Posfácio

Sei que para um bom entendedor ficou claro o triste fim do Senhor Cavalcanti do Engenho Massapé. Reconheço, todavia, que não é comum um conto acabar em reticências. Restam sempre muitos subentendidos depois destes enigmáticos três pontinhos. Interpretações entre metáforas metafísicas da continuação da vida depois da morte, e a improvável continuação da vida do personagem, mormente em uma história contada na primeira pessoa. Na literatura tudo é possível, dirão alguns, há quem escreva do túmulo, e escreva muito bem, mas não arisquei. Talvez por ter me faltado engenho e arte, talvez para não constranger o homem na narração da própria morte. Fato é que morreu o Senhor abalado com a entrada do genro no salão azul. Donana acudiu ligeiro, mas o marido jazia inerte com os olhos bem abertos. Essa história lembro ter ouvido desde que comecei a distinguir as contadas das dos meus sonhos. É a da penosa sina de um senhor altivo e honesto, que, infeliz em uma negociação de um dote com um genro ambicioso, recolheu-se a um dos cômodos da casa grande e morreu ao ver o desafeto entrar em seu último refúgio sem lhe pedir permissão.

Excerto Pós Posfácio

Usina Massapé S/A. Açúcar, Etanol e Derivados.

Companhia Aberta

Ata da Assembleia Geral Extraordinária, realizada em 16 de julho de 2010.

Data, Local e Hora: Realizada aos dezesseis dias do mês de julho do ano de dois mil e dez na sede social da companhia, localizada no Empresarial Palace Word Trade Center II, bairro de Boa Viagem – Recife(PE). As 11:00h. (onze horas).

Presença: Acionistas representados com mais de 2/3 (dois terços) do capital com direito a voto, conforme se verifica pelas assinaturas lançadas no Livro de Presença dos Acionistas, também a presença dos acionistas preferencialistas: Hendrick Van Cavalcanti; Nicholas Van Cavalcanti; Michael Van Vij; Débora Van Vij; Sílvia Cabral de Mello Von Plak; Manoel Tavares de Albuquerque; Joaquim Xindres Bastos de Souza Leão; Antônio Guedes de Araújo Cabral de Melo; Hanna Hadermam Cavalcanti de Albuquerque; Amaro Batista Santos e Silva; procuradores das Companhias Tabocas Wanderley Market Share S/A e Linda Flor & Co. Internacional Holding S/A.

Convocação e Ordem do Dia: Assembleia Geral Extraordinária convocada através de convocação em edital no D.O.- PE (Diário Oficial do Estado de Pernambuco) em 11/06/2010; e no Diário de Pernambuco dos dias 14, 15 e 16 de junho de 2010. Ordem: 1) Empreender pesquisa de preços e posterior contratação de construtora para viabilizar a finalização da hidroelétrica do Guará nas terras do antigo Engenho Massapé, em face do substancial aumento da demanda de energia elétrica, anteriormente explanada, da usina principal; 2) Remoção legal por competente ação judicial, da área de alagamento da represa, das famílias de agricultores irregularmente assentadas nas ruínas da casa velha do antigo Engenho Massapé; 3) Providências referentes ao laudo de impacto ambiental e outros entraves que possam...