dos que falam com os carros.
Hoje vi um que falava aos carros. No contra fluxo, em cima dos blocos que dividem a avenida. Velhinho, magro, vestido simples, sem desleixo. Barba branca rala, poucos dentes. Gesticulava, falava aos autos na contramão, não bradava ou gesticulava efusivo a moda dos loucos. Falava em tom normal, informal, as vezes apontava, pareceu negociava uma trégua para atravessar a via. Não ouvi. A minha janela citadina por medo não desce. Não falava – é certo – aos motoristas, olhava para os carros.
Fitava-os.
Não posso tomar por desatino aquela conversa. Não vivemos nós cidadãos modernos a conversar com máquinas? A trabalhar com elas e para comprá-las?
Somos mais lúcidos ou disfarçamos melhor?
Tive pena do velhinho... Talvez por solidão, carência ou mesmo por ter o juízo já aos bocadinhos, falava com os carros na rua.
É assim a nossa vida na cidade grande. É pra lá que todos vamos.
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