sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sobre as Coisas Pequenas que se Não Cutucadas Passariam Desapercebidas ou Pequeno Manuel Desinstrução.

dos que falam com os carros.

Hoje vi um que falava aos carros. No contra fluxo, em cima dos blocos que dividem a avenida. Velhinho, magro, vestido simples, sem desleixo. Barba branca rala, poucos dentes. Gesticulava, falava aos autos na contramão, não bradava ou gesticulava efusivo a moda dos loucos. Falava em tom normal, informal, as vezes apontava, pareceu negociava uma trégua para atravessar a via. Não ouvi. A minha janela citadina por medo não desce. Não falava – é certo – aos motoristas, olhava para os carros.

Fitava-os.

Não posso tomar por desatino aquela conversa. Não vivemos nós cidadãos modernos a conversar com máquinas? A trabalhar com elas e para comprá-las?

Somos mais lúcidos ou disfarçamos melhor?

Tive pena do velhinho... Talvez por solidão, carência ou mesmo por ter o juízo já aos bocadinhos, falava com os carros na rua.

É assim a nossa vida na cidade grande. É pra lá que todos vamos.

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