De uma antiga história da cultura do açúcar.
XVIII
Notável meu avô, sempre lembro dele. Nos sonhos aparece como se não tivesse morrido, aconselha-me, às vezes briga comigo, nos últimos sonhos tem brigado, ralha com força, estou desagradando escondido aqui no salão azul. Meu avô não aturaria uma situação dessas. Fazer o quê? Estou velho, bom de morrer, os nervos me acabaram.
Vô não aceitava nada errado, se via fora do prumo, na hora, mandava endireitar.
Uma vez desceu com papai na estação do Recife, se dirigiam ao hotel, viu um ajuntamento, homem, menino, negra arrendada vendendo com tabuleiro, escravo a mando de recado e bilhete, todos parados na calçada da estação. Curioso - mesmo meu pai sendo contra -, foi ver o que se passava, perto viu que era uma roda de gente em volta de um poste olhando uma preguiça subindo. O velho dispersou o povo com a bengala aos gritos: “ô povo besta esse da cidade, depois falam do pessoal do mato, não tem ocupação não? Nunca viram um diabo de uma preguiça trepando num pau? Vão trabalhar, xô! “ Bateu com a bengala no poste e botou todo mundo para correr. Meu pai desaprovava, mas puxou muito a ele. “Mas, pai”, dizia depois, de volta, ao engenho, “o senhor tinha nada com a vida daquele povo!” “Claro que sim, sou senhor, tenho obrigação de botar gente para trabalhar”. Pai reclamava, mas em teimosia muito saiu a vovô. Na cidade mesmo, insistia em só dizer os nomes antigos das ruas. Tinha deles até que não eram apropriados para todos os ambientes, mas continuava chamando, na frente de padre ou freira. Minhas irmãs coravam de vergonha, tremiam em pensar que podia ser diante do papa, papai ia chamar a Rua Joaquim Felipe de Rua do cu do boi, não tinha força humana que o convencesse. E assim tinha o beco da cagança, a rua da bosta, da facada, do fura alma, da emparedada, não adiantava mudar nome, ele só aprendia uma vez,assim chamava até o fim.
Mas que calor anda fazendo esse inverno! Vou conferir com Donana, mas acho que ainda é inverno. Será? Estou perdido nessa rede. Sinhá já veio hoje? Estou entrevado, meu Deus que castigo, deixa pra lá, depois pergunto.
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